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Isabela foi espancada e jogada pela janela...

Peritos concluem que Isabella foi espancada antes de morrer:


Menina foi asfixiada e jogada de cabeça para baixo da janela do sexto andar. Perícia apontou que marcas na porta do apartamento e no carro não são de sangue.


Peritos da Polícia Civil de São Paulo concluíram que a menina Isabella Nardoni, de 5 anos, foi espancada e asfixiada dentro do apartamento, antes de ser jogada pela janela do sexto andar na noite de sábado (29/03/2008). Os peritos não encontraram sangue fora do apartamento: as análises apontaram que marcas na porta da residência, na maçaneta e no banco traseiro do carro de Alexandre Nardoni não são de sangue.

As provas períciais, por enquanto, dão as seguintes pistas: o assassino, ainda não identificado, teria agredido e esganado a menina com as mãos dentro do apartamento, antes do último ato de brutalidade.
Nesta segunda-feira (07/04/2008), nove dias depois do crime, peritos voltaram ao apartamento. Eles querem esclarecer como e onde o assassino machucou a testa da menina. Essa é uma das dúvidas que cercam a morte, entretanto não foram achadas marcas de sangue em nenhuma quina de móvel dentro da casa.Na primeira perícia foi encontrado sangue no apartamento. Não se sabe de quem é, mas é certo que havia pingos em vários pontos: no chão do hall de entrada, em frente à porta da cozinha e no corredor que dá acesso aos três quartos. Os peritos observaram que, pelo tipo de mancha, a vítima estava a cerca de um metro do chão. Marcas de sangue foram encontradas também no lado externo da porta do quarto de Isabella; no lençol de uma das camas do quarto dos irmãos de Isabella, junto a uma pegada de sapato de pessoa adulta; na cama ao lado da parede e nas bordas do buraco feito na rede de proteção da janela. Com base nas provas técnicas os peritos concluíram: o assassino de Isabella de fato arremessou a menina pelo buraco da rede. No momento da queda, ela estava desmaiada. Segundo a perícia, Isabella foi jogada de cabeça para baixo, tanto que as marcas das mãos dela ficaram logo abaixo da janela, na fachada do prédio. Veja cronologia do caso O corpo da menina se descolou da parede e caiu no gramado do jardim, o que amorteceu o impacto. A queda provocou uma fratura na parte posterior da bacia, como a perícia constatou.

A outra fratura, no pulso esquerdo, de acordo com os peritos, foi provocada antes da queda, assim como o corte de dois centímetros na testa, por onde Isabella perdeu muito sangue. Ainda segundo os peritos, a menina apresentava sinais típicos de asfixia: manchas no pescoço e na nuca, outras manchas avermelhadas no pulmão e língua projetada para frente.


Habeas corpus
Nesta segunda-feira, a defesa do casal Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá entrou com pedido de habeas corpus. Três advogados do casal chegaram às 17h05 ao prédio do Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ), na região central de São Paulo, para protocolar o pedido. Se deferido, eles poderão acompanhar as investigações em liberdade.


Sigilo
A assessoria do Tribunal de Justiça de São Paulo confirmou na tarde desta segunda-feira que foi suspenso o segredo de Justiça no caso. No final da tarde, porém, o delegado Calixto Calil Filho, que apura a morte da garota Isabella Nardoni, determinou sigilo no inquérito policial.


Um caso para não esquecer...

Um caso para não esquecer!

Horror íntimo ou vocação coletiva para envergar a toga? Catarse pessoal ou sumarização da justiça? Tragédia ou circo midiático? A morte da menina Isabella Nardoni toca na emoção do país inteiro, qualquer que seja a conclusão do inquérito.

ALBERTO DINES, Jornalista

O Brasil festeiro, erotizado, apressado, partidarizado e narcisado faz uma breve pausa para pensar. Pensar e sofrer, individuar-se e abandonar a manada equalizadora. Tal como aconteceu com o menino João Hélio, despedaçado nas ruas do Rio em Fevereiro de 2007, uma criança incapaz de emitir mensagens cala a estupidez reinante e avisa que é hora de incomodar-se.
A dengue, a tremenda pressão mundial no preço dos alimentos, o narcotráfico, o genocídio no Sudão, a guerra religiosa no Iraque, a repressão chinesa no Tibete e o ódio solto no Oriente Médio certamente causarão a morte de milhares ou milhões de crianças pelo mundo afora.
Mas esta criança singularizada pela tragédia, subitamente emudecida por uma bestialidade insuspeitada, despertou nossa humanidade. Numa questão de horas, converteu em órfãos a imensa nação dos adultos.
Ninguém se importa com a prática do infanticídio em algumas tribos indígenas, defendida com empenho por antropólogos (“Folha de S. Paulo, 6/4). A cada dez horas, uma criança é assassinada, o Ministério da Saúde contabiliza, em seis anos, 5.049 mortes de meninos e meninas até 14 anos (“Globo”, 6/4/). Normal. A pedofilia e a prostituição infantil são encaradas com naturalidade, parte da “vida moderna”, incentiva o turismo.
A queda de Isabella deu um tranco nos bons costumes. Por alguns momentos sacudiu modos e modas, Ao contrário de João Hélio seu companheiro de infortúnio e martírio, a menina não acionou nossa compulsão legiferante. Até agora não apareceu um político oportunista para propor alguma lei absurda contra tragédias.
Até mesmo a parvoíce das autoridades incapazes de compreender a questão do segredo de justiça ou as disparatadas suspeitas vocalizadas incessantemente pela mídia antes mesmo de investigadas não conseguem sobrepor-se à soturna perplexidade que, por milagre, infiltra-se nos espíritos.
Imunizada contra a solidariedade, desumanizada por um debate partidário que na realidade só responde à pergunta “o que é que eu ganho com isso?”, a sociedade brasileira sempre se perfilou no bloco do “não-me-importa”. Envergonha-se de exibir o coração partido, mas agora oferece sutis indícios de sensibilização.
A dúvida sobre quem matou Isabella é tão dilacerante quanto a certeza de que alguém a matou. O filosófico e angustiante “por que?” começa a equiparar-se ao policialesco “quem?”. Os enigmas serão desfeitos, culpados logo aparecerão -- inevitável. A questão que deve permanecer e atazanar as almas e os espíritos relaciona-se com a mecânica da bestialidade. Desafio destinado a não consumar-se, exercício infindável, por isso salutar tanto para religiosos como para agnósticos, para céticos e idealistas, revolucionários e conservadores. Ignorar o animal que convive com o ser humano é próprio dos bárbaros.
Isabella é uma dolorosa oportunidade para questionamentos. Nações aturdidas, empurradas por sensações são incapazes de maturar sentimentos contínuos, comprometidas com éticas espasmódicas.
A morte de Isabella é um caso para não esquecer e aguilhoar.